110º Aniversário de Diniz da Luz
110º Aniversário de Diniz da Luz
Publicado em 8 Setembro, 2025

Diniz da Luz de Medeiros

(08/09/1915-20/12/1987)

= pelo 110.º aniversário do seu nascimento =

 

“De manhã cedo, quando abro a janela, dou uma vista de olhos pelo mar. De vez em quando, lá vai um navio, muito ao longe, ronceiro, como uma lesma de metal num pano azul. Depois, olho em volta, para me certificar se tudo está na mesma. Está sempre tudo na mesma. As casas, a igreja, os campos.”

Padre Diniz da Luz, In: «A Sereia Canta nos Portos»

 

A história de Diniz da Luz de Medeiros, um dos maiores escritores nascidos neste remoto concelho dos Açores, começou a ser traçada há 110 anos. Nasceu na antiga freguesia de Nordestinho, no dia de Nossa Senhora da Luz (8 de setembro), que lhe inspirou o nome, no seio de uma humilde família local. O seu pai, Manuel Jacinto de Medeiros, era comerciante; a sua mãe, Ana Liduína Borges de Medeiros, doméstica; e o seu irmão, Abel Dinis de Medeiros, professor e jornalista.

Desde tenra idade revelou um grande gosto pelo estudo e pela leitura, tendo aprendido a ler com o pai antes de entrar para a escola. Cresceu num ambiente familiar modesto e profundamente religioso, onde uma dolorosa experiência de infância (a morte de um primo) e a influência do pároco local desempenharam um papel decisivo na sua decisão de seguir uma vida sacerdotal. Motivado por essa orientação, ingressou no Seminário de Angra para prosseguir a formação. Enquanto estudante, destacou-se como colaborador da imprensa açoriana, assinando os seus textos com o anagrama do seu nome: «DAZUL». Foi ordenado sacerdote em 1938, ano em que celebrou a missa nova na igreja de São Pedro, na sua terra natal.

Partiu para Lisboa em 1940 para ganhar experiência e desenvolver as grandes capacidades jornalísticas que revelava. Trabalhou durante 30 anos na redação do diário católico «A Voz», enquanto colaborava com jornais micaelenses, assim como com diversas publicações portuguesas e norte-americanas. Também contribuiu de forma decisiva para o entendimento da conjuntura política e religiosa da época, enfrentando resistências por parte dos setores mais tradicionais ao expressar críticas explícitas ao regime. Foi ainda um dos principais defensores da chamada “Igreja do Silêncio” nos países sob regimes comunistas. Manteve estreitas amizades com figuras literárias proeminentes como Ferreira de Castro, Vitorino Nemésio, Júlio Dantas, Jorge de Sena, Luís Forjaz Trigueiros, Manuel Resende Carreiro, entre muitos outros.

Durante a II Guerra Mundial opôs-se ativamente ao nazismo, o que lhe valeu um forte reconhecimento internacional: foi condecorado com a Medalha da Liberdade pelo rei Jorge VI do Reino Unido e recebeu o grau de oficial da Ordem de Leopoldo II da Bélgica.

Com uma vasta e intensa atividade literária, aliada a uma incisiva visão crítica, afirmou-se como sacerdote, jornalista, escritor e poeta. Cultivou a poesia, o conto e o ensaio, integrando-se no  movimento modernista, embora com uma linguagem marcada por formas clássicas. A sua estreia literária deu-se com Ponta da Madrugada, volume que reúne cerca de 40 poemas compostos durante a adolescência. Poeta e prosador de grande mérito, depois do 25 de Abril continuou a manter o espírito independente e a escrever corajosos artigos na imprensa açoriana. Por motivos de saúde, acabou por regressar ao Nordestinho para descansar e recuperar, onde passou a residir, refugiado e sozinho, na antiga casa dos seus pais. Faleceu a 20/12/1987, na mesma terra que o viu nascer.

 

 

Fontes:

JÚNIOR, J. Silva. Padre Dinis da Luz / Apontamentos sobre a sua vida e obra. 2.ª Edição. : Câmara Municipal de Nordeste, 1990.
LUZ, Padre Diniz da. A sereia canta nos portos. Nordeste: Câmara Municipal de Nordeste, 2005.